Dez anos atrás, em 19 de fevereiro de 2014, o Facebook
Inc (atual Meta
) anunciava a compra do mensageiro WhatsApp
, numa negociação que foi finalizada em outubro daquele ano por US$ 22 bilhões de dólares (cerca de R$ 110 bilhões, na cotação atual). A transação transformou o app, que já era enorme, num gigante da comunicação digital, mas ainda é motivo de arrependimento para Brian Acton, um dos cofundadores da plataforma.
Acton e Jan Koum
lançaram o WhatsApp em 2009 com o grande diferencial de permitir a troca de mensagens pela internet entre celulares Android e iOS. Os dois seguiram como parte da Meta por algum tempo após a aquisição, mas eventualmente saíram da empresa por discordâncias sobre os rumos tomados com o mensageiro.
Acton deixou a companhia em 2017, um ano antes de Koum, e já manifestou publicamente algumas das rusgas com a Big Tech — o atrito foi tão grande que o executivo abriu mão de cerca de US$ 850 milhões para romper com a empresa de Zuckerberg.
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Motivo da saída
Brian Acton abriu o jogo em entrevista ao site da Forbes, em 2018 — desde então, não existem registros públicos do executivo comentando sobre a sua saída. Na ocasião, relembrou de atritos com executivos da Meta, o CEO Mark Zuckerberg
e a COO Sheryl Sandberg
, sobre a monetização do WhatsApp.
Os dois cofundadores do Zap mantinham uma política para evitar anúncios de qualquer forma no mensageiro, mas a Meta estara pressionando para incluir ali o mesmo modelo de negócios de propagandas direcionadas de Facebook e Instagram
. Acton, inclusive, tinha o lema de “sem anúncios, sem jogos, sem truques” para gerenciar o app, mas acabou perdeu na queda de braço interna da empresa.
O cofundador propunha um modelo de negócios para monetização com base no uso e nas mensagens enviadas por cada usuário, mas os executivos da Meta queriam faturar com a venda de serviços que usam o WhatsApp para a comunicação de empresas — e isso, inclusive, esbarrava na criptografia de ponta a ponta proposta pelos criadores do app.
Atritos e arrependimento
Nessa situação, Acton pediu para sair. “Eu disse: ‘ok, vocês querem fazer essas coisas que eu não quero fazer’. É melhor eu sair do caminho de vocês. E saí”, disse à Forbes.
A decisão também pesou no bolso: Acton saiu um ano antes de se tornar elegível para exercer uma opção de compras de ações prevista no contrato. Considerando o preço dos papéis no momento da saída, ele deixou de ganhar US$ 850 milhões de dólares.
Apesar das cifras milionárias, o arrependimento maior teria sido ver o resultado do que virou a empresa que ele ajudou a criar: “no fim das contas, vendi minha empresa. Vendi a privacidade dos meus usuários em prol de um benefício maior. Fiz uma escolha e uma concessão. E convivo com isso todos os dias.”
Diante do escândalo do Facebook envolvendo a Cambridge Analytica
, revelado em 2018, que envolveu a venda de dados de milhões de usuários sem consentimento, Acton publicou um post no X (antigo Twitter
) pedindo para que as pessoas deletassem a rede social criada por Zuckerberg. Pouco tempo antes, o executivo anunciou a criação do mensageiro privado Signal, no qual está envolvido até hoje e onde investiu cerca de US$ 50 milhões.
It is time. #deletefacebook
— Brian Acton (@brianacton) March 20, 2018
A Meta nunca respondeu às acusações de Acton publicamente, mas um de seus executivos publicou uma alfinetada na ocasião: chefe da divisão de blockchain da empresa em 2018, David Marcus comentou num post que acha que “atacar as pessoas e a empresa que fizeram você um bilionário e que fizeram um esforço sem precedentes para protegê-lo e acomodá-lo por anos é algo muito baixo.”
Saída de Jan Koum
O outro cofundador, Jan Koum, saiu da Meta um ano após a partida do antigo sócio. Porém, ficou na empresa tempo suficiente para se tornar elegível para receber cerca de US$ 450 milhões em ações da empresa. Koum foi considerado o 40º estadunidense mais rico pela Forbes em 2023 e tem uma atualmente fortuna estimada em US$ 16 bilhões de dólares.
Ex-diretor comercial também já se manifestou sobre a venda
Acton não foi o único que ficou incomodado com a venda do WhatsApp. O ex-diretor comercial do aplicativo, Nareej Arora, atuou no processo de aquisição pela Meta e também já demonstrou arrependimento publicamente
.
Numa longa sequência de posts no X, Arora explicou alguns detalhes de bastidores, como a condição de manter o app sem anúncios mesmo após a venda, e disse que o WhatsApp “é uma sombra do produto em que colocamos nossos corações e queríamos construir para o mundo”. Em outra ocasião, chamou o app pós-Facebook de um “monstro de Frankenstein devorando dados de usuários”.
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