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Como Renascer é o Star Wars brasileiro

Como Renascer é o Star Wars brasileiroAndré Mello

Não é de hoje que as histórias contadas nas novelas nacionais chamam a atenção não só do público brasileiro, mas também de espectadores ao redor do mundo. Mesmo assim, ainda existem aqueles que torcem o nariz, mesmo quando essas produções são inegavelmente de alta qualidade, como é o caso de Renascer, remake da novela de 1993, atualmente em exibição na Rede Globo.

Só que com um pouco de esforço, ou talvez apenas completa loucura, é possível falar que a novela criada por Benedito Ruy Barbosa traça com sua trama e personagens um paralelo com outra obra bastante conhecida no mundo: Star Wars.

Com a mesma cara lavada que podemos falar que “Kubanacan é o nosso Dark” (isso é conversa para outra oportunidade), a história de Zé Inocêncio, interpretado em sua primeira fase pelo ator Humberto Carrão e na segunda por Marcos Palmeira, é quase a mesma de Anakin Skywalker. Só que em vez de sabre de luz, tem facão no pé de um jequitibá-rei.

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A jornada dos heróis Zé Inocêncio e Anakin Skywalker

O autor Joseph Campbell foi um pesquisador que no seu livro O Herói das Mil Faces, fez uma análise aprofundada sobre o padrão narrativo muito comum em mitos, lendas e histórias épicas, como é o caso de Star Wars e Renascer.

Nessa jornada, o herói é apresentado, recebe o seu chamado, encontra um mentor, atravessa o limiar rumo ao desconhecido, passa por testes, encontra inimigos e aliados. Chegando próximo ao seu objetivo, ele precisa passar por uma provação suprema, tendo a sua recompensa, se redescobre e retorna ao mundo inicial como um novo homem ou mulher.

Esse é um resumo até grosseiro, mas que cobre exatamente a estrutura desse tipo de história e como os heróis da novela da Rede Globo e o personagem principal da saga da Disney andam lado a lado.

O sofrimento no início e no final

Renascer começa com a história de José Inocêncio, um rapaz que deseja alcançar a grandeza, fazendo um pacto com um jequitibá-rei. Enfiando seu facão nos pés da majestosa árvore, ele demonstra seu respeito a ela, ligando a sua vida ao do Jequitibá. Seu pacto de que enquanto a árvore estiver de pé, ele não morrerá “de morte matada e nem de morte morrida”.

Parece um pacto bobo, ainda que as palavras sejam fortes e baseadas numa religiosidade que parece desmedida, mas logo é colocado à prova quando um bando de capangas do dono das terras onde fica o jequitibá encontra Zé Inocêncio.

Mostrando que a vida não é um morango, ele é atacado e tem seu couro arrancado. Na nova versão, ele tem apenas as costas esfoladas. A versão original era bem mais horripilante, com Zé Inocêncio tendo toda a sua pele removida, enquanto ele, agonizando, é deixado pendurado de cabeça para baixo.

Aqui já abrimos um paralelo com o sofrimento de Anakin Skywalker, que tem braço e pernas decepados e deixado para pegar fogo nas margens de um rio de lava, em Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith.

Sim, estamos nos adiantando, mas aqui, o sofrimento dos dois é tamanho e sua sobrevivência é praticamente um milagre. Porém, existem paralelos que fazem mais sentido (pelo menos dentro da minha mente perturbada).

Um amor, uma perda e a queda do herói

Assim como Star Wars, Renascer conta com duas fases, mostrando diferentes momentos nas vidas de seus personagens. Na primeira fase, ainda vemos jovens sonhadores, tentando encontrar seu lugar no mundo, e a forma como enfrentam grandes desafios.

As coisas começam a ficar bem mais parecidas quando vemos como Zé Inocêncio e Anakin tiveram suas vidas transformadas ao conhecer uma jovem que cativa o seu amor. Enquanto o personagem da novela se apaixona por Santinha, interpretada por Duda Santos, o jedi vê em Padmé, interpretada por Natalie Portman, como seu grande amor.

Enquanto Zé Inocêncio ama livremente sua mulher, Anakin vive uma vida de segredos por conta dos Jedi, mas tem no seu amor um combustível para suas lutas. Em ambas as histórias, eles encontram o mentor, na forma de Obi Wan Kenobi ou de Jacutinga, que tentam trazer sabedoria para os heróis, nem sempre sendo ouvidos.

Eles vivem felizes, até que uma gravidez complicada leva os dois à sua derrocada. Tanto Santinha quanto Padmé morrem no parto dos seus filhos, João Pedro e Luke Skywalker.

Zé Inocêncio e Anakin se tornam uma sombra do que um dia foram, renegando completamente os filhos, que precisam ser criado por outras pessoas, Deocleciano e Morena, praticamente o Tio Owen e Tia Beru de Renascer.

É possível até mesmo ligar a religiosidade de Zé Inocêncio à Força e o lado sombrio ao Cramunhão na Garrafa. As coisas fazem tanto sentido que eu não sei se estou ficando louco ou alcançando a iluminação suprema do conhecimento com essas ideias.

A redenção pelas mãos do filho

A estreia da segunda fase de Renascer mostra outro paralelo com Star Wars, que é na redenção dos “vilões”. Falando um pouco de spoilers da novela, apesar de ela ser um remake e ter o seu final pela internet, se baseando na versão original, Zé Inocêncio fica entre a vida e a morte, sofrendo por conta de seu pacto com o jequitibá-rei.

Depois de uma vida renegando seu filho João Pedro, é ele que encontra a árvore onde seu pai deixou o facão, retirando-o e colocando o seu no lugar. Ao retornar para o leito de morte do seu pai, eles se reconciliam, com o velho Zé Inocêncio falando que ama seu filho antes de morrer.

Sabe quem salva o pai de uma vida nas sombras e no final, com ele todo esculhambado, confessa o amor ao filho e morre do lado da luz? Ele mesmo, Anakin Skywalker.

Só resta saber quem é o Jar Jar Binks na novela.

Renascer está em exibição na Rede Globo e no Globoplay. Toda a saga Star Wars está disponível no Disney+.

Leia a matéria no Canaltech.

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