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Crítica Leo | Animação fala com doçura sobre inseguranças infantis

Paulinha Alves

Crítica Leo | Animação fala com doçura sobre inseguranças infantis

Leo
, animação musical lançada pela Netflix
, é um daqueles filmes que, embora agrade a toda a família, foi feito para conversar diretamente com as crianças. Co-escrito, produzido e estrelado por Adam Sandler — que faz a voz do lagarto protagonista —, ele é uma realização da Happy Madison Productions, produtora fundada pelo próprio ator que, até então, tinha apenas uma animação em seu currículo, o quase desconhecido Oito Noites de Loucura de Adam Sandler
.

Mais um dos trabalhos de Sandler feito em parceria com o serviço de streaming, o longa estreou sem muito alarde na plataforma, trazendo uma mensagem doce facilmente entendida pelos pequenos. Isso porque, na contramão das últimas animações de Hollywood, que quase sempre apostam em uma história divertida para as crianças, mas que contém um subtexto para os adultos, Leo
se dirige completamente ao público infantil.

Embora duas ou três piadas escapem de seu entendimento e algumas referências a outros filmes também possam passar despercebidas pelos baixinhos, o longa tem seu público-alvo muito bem definido. É para os pequenos que a história é contada e, sobretudo, é com eles que as lições do filme buscam se relacionar, já que estamos falando de algumas das principais inseguranças e problemas com que lidamos nessa fase da vida.


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Um amigo inesperado

Dirigido por Robert Marianetti, Robert Smigel e David Wachtenheim, o filme conta a história de Leo, um lagarto que, desde bebê, foi adotado como o mascote do último ano do Ensino Fundamental de uma escola na Flórida. Ao lado de Squirtle (Bill Burr), a tartaruga com quem divide o terrário, Leo viu diferentes gerações de crianças passarem pelo local. Uma vivência que o tornou expert em “classificar” e identificar seus problemas.

Quando a turma de 2023 começa, no entanto, Leo sofre um choque de realidade. Ao ouvir o pai de um aluno falar sobre sua espécie, ele descobre que só viverá até os 75 anos. Uma idade assustadora para o personagem, já que ele já tem 74 e “desperdiçou” toda a sua vida trancado em uma sala de aula.

Abalado com a iminência da morte e a chegada da professora substituta Sra. Malkin (Cecily Strong) — que decide que os alunos devem se revezar para cuidar do bichinho aos finais de semana —, Leo tenta escapar da casa de Summer, a primeira aluna a ficar responsável por ele. Uma fuga, obviamente, que dá errado e faz com que o protagonista revele para a garota que é um lagarto falante.

As cenas que envolvem sua tentativa de fuga e as primeiras interações com a menina são especialmente engraçadas, já que Summer é famosa por nunca ficar calada. Com dificuldades para se comunicar — e impedir que a garota revele seu segredo —, Leo então consegue ensiná-la a manter um diálogo aberto, explicando o quanto é importante não apenas falar, mas também ouvir.

É a partir daí — após um começo um pouco lento, mas que vale a persistência —, que o filme realmente começa a engrenar e que o lagarto, por sua vez, percebe que pode usar sua experiência acumulada ao longo de 74 anos para aconselhar as crianças de sua turma.

Com doçura e um tato que falta em muitos adultos, Leo passa a ser um amigo que não julga os pequenos por suas inseguranças. Não importa se eles estão sofrendo porque são diferentes das outras crianças, porque têm pais superprotetores ou porque sentem falta de um ente querido. O protagonista está ali apenas para ajudá-los, o que muitas vezes significa apenas estar aberto para ouvi-los desabafar.

Uma boa mistura de traços

Embora o protagonista não deixe seu sonho de liberdade de lado enquanto ajuda os pequeninos — motivação que, inclusive, é a responsável por uma das cenas mais engraçadas do filme, quando Leo se torna um “godzilla” destruidor da maquete de uma cidade —, grande parte da dinâmica da história vêm da mistura de traços que aparecem na tela.

Embora a trama principal tenha um estilo de ilustração bem definido, há algumas inserções na história que contam com recursos de animação curiosos e bem diferentes. Entre eles estão as crianças agitadas do jardim de infância, com seus olhos assimétricos e corpinhos de bonecos; os relógios dançantes que formam o musical do pai de Jayda (Sadie Sandler) e até mesmo a cena em que Leo e a Sra. Malkin passeiam por seu álbum de formatura escolar.

Responsável por causar um bom estranhamento na tela, a mistura feita pelo estúdio Animal Logic torna o longa-metragem mais divertido. E faz até com que as músicas, que aparecem de maneira equilibrada ao longo da história, ganhem mais vida e teatralidade quando cantadas.

O elemento musical, inclusive, é peça-chave do filme. Muitos dos conselhos dados pelo lagarto para as crianças são feitos por meio de canções, que tentam mostrar uma alternativa ou uma maneira diferente de encarar aquela situação. Compostas todas por Geoff Zanelli, elas são especialmente delicadas e servem para mostrar um lado mais vulnerável dos personagens.

Elenco de peso (e em família)

Ainda que isso não apareça diretamente no filme, outra característica importante de Leo — e que, de alguma forma, transparece na narrativa — é que boa parte do elenco do filme está em família.

Além de Adam Sandler ser protagonista da trama, o título conta ainda com Jackie Sandler, Sunny Sandler e Sadie Sandler (a esposa e as filhas de Adam) nos papéis, respectivamente, da mãe de Jayda, Summer e da própria Jayda.

Também fazem parte do elenco os já citados Bill Burr ( Breaking Bad
) e Cecily Strong ( Schmigadoon!
), além do ator Jason Alexander ( Seinfeld
), que dá vida ao pai de Jayda e Rob Schneider ( Garota Veneno
), que faz o diretor da escola.

Embora todos esses nomes de peso façam jus à história, é Sandler quem de fato brilha quando consegue modular tão bem sua voz. Como um lagarto já idoso cansado ou em êxtase pelas mudanças que vêm acontecendo em sua vida, a interpretação do ator é impecável — tornando Leo uma experiência ainda mais reconfortante para toda a família.

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