Depois de ter ganhado o Grammy Latino com o BaianaSystem, a cantora chilena Claudia Manzo está em São Paulo para apresentar El Baile da Claudia Manzo.
O show da artista chilena será no próximo sábado (20/12), às 23 horas, no Sol y Sombra da Rua Treze de Maio, 180, no bairro do Bixiga em São Paulo.
Aqui temos uma entrevista exclusiva com a cantora, na qual ela fala de sua carreira, de sua participação na banda BaianaSystem e de sua relação com a música e com o Brasil.
Além disso, também comenta sobre a premiação do disco O Mundo Dá Voltas, gravado pelo BaianaSystem , com o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa.
Entrevista
Você nasceu e cresceu no Chile e depois de adulta veio para o Brasil. Como foi o encontro desses dois universos musicais?
Primeiro que tudo, é um privilégio poder ter acesso a esses dois universos musicais.
Vim para o Brasil de férias, e o que me fez ficar aqui foi sua diversidade musical, isso foi muito especial para mim.
Sou louca pela música latino-americana, sua música de raiz e nossa cultura da América do Sul.
Do Brasil, conhecia o básico, mas na primeira semana aqui, escutei chorinho, forró, maracatu e pirei.
Aí eu falei: “não, tenho que ficar aqui”. Com todos esses anos em que eu estou aqui, consigo ver muitas semelhanças e muitas influências, os ritmos têm outros nomes às vezes, mas estamos todos misturados.
Temos fontes muito importantes, que são a africana e a indígena. Estamos todos bem misturados, com a cordilheira e a Amazônia.
Você tem participado bastante do Carnaval brasileiro, principalmente em Belo Horizonte, como fundadora do bloco Bruta Flor e do Como Te Lhama. A proposta musical desses grupos é temperada por ritmos latinos?
Sim, o Bloco Bruta Flor é um bloco feminista, sou uma das suas fundadoras. Minha contribuição foi, de fato, colocar ritmos latinos, como a cumbia, para as mulheres tocarem na rua.
Assim já se abriu para o diálogo e uma conversa sobre a América do Sul.
O trabalho tem algumas influências latinas, mas muita música brasileira também. Já o Como Te Lhama é um bloco especificamente de cumbia e outros ritmos latinos, tudo bem temperado de latinidade.
Como foi sua entrada no BaianaSystem?
Foi por acaso. Em 2019 tivemos a revolta e os protestos no Chile.
Mandei uma mensagem, no inbox, para o Russo Passapusso, do BaianaSystem, para que compartilhasse as informações sobre o que estava acontecendo por lá.
Senti que ele ia se importar e compartilharia as informações, os vídeos, tudo o que estava ocorrendo e ninguém aqui no Brasil sabia.
A partir daí, ele me perguntou se eu fazia música.
Disse que sim, então ele me mandou uma música. Veio a pandemia, mas a gente ficou se falando, já entendendo que vinha essa parceria.
Depois participei do disco OxeAxeExu(2021), o primeiro em que participei com o BaianaSystem.
Depois disso, quando começamos a ir pra rua, no primeiro show que conseguiram fazer no Rio de Janeiro, eu já estava participando.
O tempo foi passando, já foram três, quase quatro anos e estou muito feliz por essa nossa parceria.
Grammy
O que representou para você e o BaianaSystem terem ganho, neste ano, o Grammy Latino com o álbum O Mundo Dá Voltas?
Foi uma celebração, aliás, representou mais que uma celebração.
Para mim foi o reconhecimento de um trabalho muito árduo. Sempre é importante de ter esse feedback, e mais ainda de pessoas que estão de fora do Brasil, de vários lugares, da América do Sul.
É muito bonito de ver como as pessoas e a música comunicam. Para a banda é uma tremenda celebração de vozes, porque são muitas pessoas participando desse álbum.
Foi uma tremenda festa, são mais de 150 pessoas que fazem parte desse disco. Então, é um Grammy muito coletivo, um Grammy muito especial, com músicas muito especiais e participações incríveis.
Você gravou dois álbuns solos. Os fãs poderão, em breve, curtir um terceiro álbum?
Estou com muita vontade de lançar um terceiro no próximo ano. Tem um tempo que estou compondo, mas alguma coisa se revolucionou dentro de mim.
As coisas que compus não curti muito e deixei um pouco paradas.
Agora veio um momento de composição diferente.
Estou com vontade mesmo desse terceiro álbum e até um quarto já está na minha cabeça. Espero que me acompanhem pra verem o que vai vir. O processo criativo é isso.
Fale sobre os outros projetos musicais em que você participa como, por exemplo, Atípica de Lhamas, Sonora Amaralina, Bazuros e Cheiro do Queijo?
Fui integrante da orquestra Atípica de Lhamas desde seu primeiro show, na verdade, desde o Carnaval com o bloco Como Te Lhamas.
Além disso, também fui compositora da orquestra, uma frontwoman, cantando e tocando durante um bom tempo.
Era uma participação com muito afeto e muita entrega da minha parte. Só saí quando fui trabalhar com o BaianaSystem, por causa da agenda.
Já morando em Salvador, tive a sorte de conhecer a Sonora Amaralina, de que não faço parte, eu cantei com eles e conheci os integrantes.
É muito especial, porque é uma banda com muitos imigrantes e músicos incríveis.
Também tive a sorte de conhecer e cantar com o Bazuros, de quem sou amiga, e recentemente cantei em um show deles aqui em São Paulo, onde estou morando agora.
Eles fazem uma cumbia mais urbana, mais punk e me interessa essa rebeldia no palco, é muito divertido.
E o Cheiro do Queijo são amigos do meu coração. É uma banda muito incrível, do Ceará, fazem trabalho com circo, com umas denúncias bem afiadas.
Agora estão nesse universo da cumbia. Tive a sorte de participar de um show com eles e o BaianaSystem.
O baile
O que o público pode esperar do El Baile da Claudia Manzo?
Uma viagem no tempo e uma viagem geográfica dentro da nossa América do Sul.
Viajaremos pelo romance, pela decepção, pelo combate, pelo feminismo, pela alegria, pela fantasia.
Será uma noite divertida, na qual me entrego com tudo para cantar, dançar e trazer momentos de prazer, então uma viagem prazerosa
E vamos ter um convidado muito especial, que é Sebastián Piracés-Ugarte, um dos fundadores e integrante do grupo Francisco, El Hombre.
Estou muito feliz porque é nosso primeiro convidado do baile. Além de um querido, é também uma referência importante para esse discurso da música latino-americana no Brasil.
Esta coluna é um espaço destinado à cultura e músicas latinas. Mais informações sobre esses temas você encontra em www.ondalatina.com.br e no Canal Onda Latina: https://www.youtube.com/@canalondalatina
Assista o videoclipe de Agulha com BaianaSystem e Claudia Manzo:









