terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Resgate no Pico do Ferraria

Dois jovens foram resgatados na última semana após uma intensa busca que se estendeu por cerca de 48 horas na perigosa e fria região do Pico do Ferraria, um dos pontos notórios da Serra do Mar no Paraná. A dupla havia iniciado uma trilha na manhã de segunda-feira (8) e se perdeu, desencadeando uma complexa operação que mobilizou um vasto contingente de profissionais.

O alerta do desaparecimento foi dado após os trilheiros não cumprirem o horário de retorno nem conseguirem entrar em contato. As condições climáticas adversas, com neblina densa, chuva e quedas bruscas de temperatura durante a noite, foram um desafio constante para as equipes de resgate.

A operação mobilizou mais de 50 pessoas, incluindo militares do Corpo de Bombeiros (GOST), do Batalhão de Operações Aéreas (BPMOA) e grupos de socorristas voluntários. Para varrer a área de mata fechada, foram empregados drones com tecnologia termográfica durante as madrugadas e técnicas avançadas de busca e resgate em montanha (SAER).

Os jovens foram finalmente localizados na manhã de terça-feira, em uma zona de difícil acesso do Pico do Ferraria. Eles apresentavam exaustão extrema, sinais de desidratação severa e leve hipotermia, resultantes da longa exposição ao ambiente selvagem.

Após receberem os primeiros socorros no local e serem estabilizados, a dupla foi levada a um hospital e depois foram liberados.

Sobre o resgate no Ferraria: Meu comentário!

Embora qualquer pessoa possa se perder e precisar de resgate em uma montanha, este caso se apresenta como uma lição valiosa. Ele oferece uma oportunidade de debater atitudes de risco e reforçar a importância de fomentar uma cultura de segurança no montanhismo, sem o intuito de constranger os envolvidos (por isso, seus nomes não serão mencionados).

Informações obtidas extraoficialmente, que não constavam na comunicação oficial dos Bombeiros, trouxeram novos fatos. Primeiramente, a dupla de montanhistas iniciou a ascensão na segunda-feira pela manhã, adotando uma estratégia de ataque — rápida, leve e sem previsão de pernoite. Essa abordagem é, de fato, a recomendada para a época. Contudo, o Pico do Ferraria é uma montanha desafiadora, com uma trilha densa e acidentada. Para executá-la rapidamente, é aconselhável ter conhecimento prévio do percurso. A estratégia foi sensata, mas houve uma clara subestimação da dificuldade da montanha. Aqui temos um erro que anula o acerto.

É crucial destacar que nos aproximamos do verão, e dezembro é um mês tipicamente marcado por forte calor e chuvas. Estamos, portanto, em plena temporada de baixa de montanhismo, com grande probabilidade de precipitação. Além desse fator sazonal desfavorável, a previsão do tempo era péssima: o INMET havia emitido um alerta meteorológico de chuva e ventos fortes, amplamente divulgado na imprensa. A falha em consultar essa previsão constituiu um erro crasso.

Em períodos de verão, a recomendação para a travessia de montanha é sempre a incursão rápida, exatamente o plano da dupla. No entanto, é fundamental estar preparado para imprevistos, o que exige equipamento adequado. Isso inclui roupas impermeáveis e para frio, lanterna com pilhas extras e, essencialmente, comida. Um grande erro da dupla foi a falta de lanternas e o suprimento limitado a poucas frutas.

Apesar da imprudência com o equipamento, os montanhistas demonstraram bom senso na interpretação do caminho de ida. Eles alcançaram o topo do Pico do Taipabuçu, ponto obrigatório para o Ferraria, cruzaram o vale entre as duas montanhas, uma área notória por trilhas confusas e vegetação densa e fizeram cume no Ferraria.

A volta revelou um cenário drasticamente alterado. Após um dia de chuva intensa, a dupla se perdeu, desorientada pelo cansaço, umidade, falta de alimentos e ausência de sinal de celular. Eles decidiram seguir o curso de um rio que, de fato, levava à BR-116. No entanto, a falta de uma trilha tornou a descida extremamente exaustiva para corpos já enfraquecidos pela má alimentação. A noite foi passada entre pedras, em uma tentativa de manter o calor corporal.

Durante a descida, um dos montanhistas caiu em uma cachoeira, ficando completamente molhado e aumentando o risco de hipotermia. O resgate foi dificultado pela escolha do caminho, exigindo um esforço adicional da equipe que conseguiu interpretar a rota e localizá-los no meio do nada, muito distantes da trilha original e da civilização. Tiveram sorte!

Considerações finais

A dupla de montanhistas de Curitiba cometeu todos os erros possíveis em uma expedição na montanha, literalmente gabaritando tudo o que você não pode fazer na montanha:

. Escolheram a época inadequada para a incursão.
. Ignoraram a checagem da previsão do tempo.
. Enfrentaram uma forte tempestade, optando por prosseguir sob chuva intensa.
. Não levaram equipamentos essenciais, como lanterna e provisões.
. Em vez de buscar a trilha original quando se perderem, tentaram abrir caminho pela mata, rumo a um local desconhecido.
. Selecionaram uma montanha difícil e distante, com pouca margem para erro, em vez de uma opção mais fácil e conhecida.

Conclusão:

Tiveram sorte por serem resgatados a tempo. A intervenção de uma equipe de resgate qualificada e bem treinada foi crucial para localizá-los antes que entrassem em estado de hipotermia.

O verão é considerado a baixa temporada para o montanhismo. Nesse período, o ideal é deixar projetos mais ambiciosos de lado e priorizar saídas com o objetivo de apenas manter a forma física.

Dicas de segurança para o montanhismo no verão:

. Saia e volte cedo: Comece a caminhada nas primeiras horas do dia e encerre antes do meio-dia, quando o calor e as chuvas de verão costumam começar.
. Escolha trilhas fáceis e conhecidas: Evite rotas complexas.
. Fique atento às mudanças no tempo: Retorne imediatamente ao primeiro sinal de mudança repentina nas condições atmosféricas.
. Esteja bem equipado: Mesmo saindo cedo leve lanterna, roupa impermeável, blusa e comida

Principais riscos e cuidados na montanha durante o verão:

Raios: Risco de acidentes.
Hipotermia: Embora pareça contraditório, é um risco real, pois as pessoas se molham nas chuvas e podem sofrer uma queda brusca de temperatura corporal.
Animais peçonhentos: Tornam-se mais comuns com o aumento do calor.

Seja sempre prudente e evite erros!

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