A 22ª edição da Parada LGBTI+ de Madureira, marcou mais um capítulo histórico na luta por direitos, respeito e visibilidade da população LGBTI+. Realizada neste domingo (14), no Parque Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, a manifestação reuniu milhares de pessoas e transcorreu em clima de alegria, união e paz, sem registros de violência, reafirmando a força do evento como manifestação cultural, social e política.
Com uma programação diversa, o evento uniu música, samba, arte e discursos de conscientização. A Parada celebrou a diversidade e o amor em todas as suas formas, sem perder de vista a importância do enfrentamento à LGBTfobia, ao feminicídio e às desigualdades sociais. Idealizada pela saudosa Loren do Buá e organizada por Rogéria Meneghel, presidente do grupo MGTT, a Parada chegou à sua 22ª edição consolidada como um espaço de resistência pacífica, acolhimento e construção de cidadania.
A direção artística ficou a cargo de Milton Cunha, que ressaltou a importância de ocupar o espaço público como afirmação de direitos civis e humanos. O carnavalesco lembrou que a diversidade faz parte da própria constituição da sociedade e que todas as pessoas têm o mesmo direito de buscar felicidade e dignidade.
Milton Cunha, diretor artístico da Parada, destacou a importância da visibilidade:
“Celebrar a diversidade aqui em Madureira é direito civil. Uma sociedade é feita de muitas pessoas, esse leque se abre. Nós, LGBTQIA+, somos cerca de 20% da população, muitos ainda escondidos porque é difícil, é doloroso. Mas a gente vai ter que tirar prazer daí, a partir da dor se construir feliz. Estar aqui, em praça pública, é dizer: nos respeita. É humanidade, é humanismo. Parem com essa besteira de ser melhor que os outros. Não há melhores. Todo mundo está tentando ser feliz. Saravá!”.
Um dos momentos mais simbólicos do evento foi a coroação de Nicole Bahls como Rainha da 22ª edição.Recebida sob aplausos e forte comoção do público, Nicole celebrou sua relação afetiva com a comunidade LGBTI+, reforçando a importância do amor, do acolhimento e da visibilidade.
Nicole Bahls, Rainha da 22ª Parada LGBTI+ de Madureira, falou da da alegria de abraçar a diversidade.
“Tô muito ansiosa e muito feliz em receber essa faixa hoje. Eu sou muito apegada à comunidade LGBTQIA+, eles fazem parte da minha vida e das minhas conquistas. Eu tenho um grupo que se chama Família Bahls, com muitos fãs gays. Eu falo que não vivo sem as bichas. Amo mesmo!
Estar aqui hoje é muito importante pra mim. Eu amo as gays, elas me amam, e a gente se fortalece junto”.A força da cultura popular e do samba também esteve presente com Bianca Monteiro, rainha de bateria da Portela, que participou pela primeira vez do evento e destacou a Parada como espaço fundamental de fala, conscientização e transformação social. Bianca falou sobre celebrar a luta e o amor:“Tô muito feliz em poder fazer parte desse momento, desse movimento. É a minha primeira vez nesse palco, com o convite do Milton e da Rogéria, e tá sendo lindo.Celebrar a diversidade é celebrar a luta e o amor. A gente vive tanta guerra que a única maneira de mostrar o que a gente quer é através do amor.Esses palcos, esses lugares de fala, ajudam a tirar a venda da ignorância e da falta de conhecimento. Sempre tem música, mas sempre tem uma fala importante lembrando o porquê desse evento existir”.A participação de Inês Brasil levou alegria, irreverência e emoção ao público.Ovacionada, a artista reforçou mensagens de fé, união e amor, reafirmando sua relação histórica com a comunidade LGBTI+ e sendo um dos pontos altos da celebração:
“Eu não quero título, eu sou irmã de todo mundo. Graças a Deus. Se Deus é por nós, ninguém será contra nós. Vamos se unir. A vida é linda, é maravilhosa. Deus deu beleza pra cada um de nós, cada um do seu jeito”.
O caráter institucional e político do evento foi reforçado pela presença da ministra dos Direitos Humanos do Brasil, Macaé Evaristo, que destacou o simbolismo de Madureira como território de diversidade, cultura e resistência, além da importância da Parada como espaço de denúncia e reivindicação de políticas públicas.
“Madureira primeiro é um braço que a gente pode quase que chamar de uma África no Rio de Janeiro, então já é um berço da diversidade, da pluralidade. A gente tem uma Parada que marca a luta pela vida, pela existência, pelo direito de amar da população LGBTQIA+. Aqui em Madureira isso é muito simbólico, porque diz de como que a gente vive numa interseccionalidade. É uma região negra, é uma região da Zona Norte da cidade, berço do samba, berço de muita potência. O samba, como já diz o poeta, é uma forma de oração. As pessoas estão aqui celebrando, mas também estão aqui para denunciar as violações de direitos humanos contra a população LGBTQIA+ no nosso país. Vamos fazer isso com muita alegria também, com a força da cultura, que a gente sabe que é muito importante para formar mentes e corações”.
Além das atrações artísticas e das falas políticas, a Parada LGBTI+ de Madureira ofereceu ao público serviços gratuitos de saúde, como distribuição de preservativos, testes rápidos, autotestes de HIV e vacinação, reforçando o compromisso com a prevenção, o cuidado e a promoção da vida.









