Após um período de quase um ano sem fiscalização eletrônica regular, Campo Grande retoma nesta semana a instalação de radares em 212 pontos da cidade. A volta dos equipamentos marca o início de um novo contrato, no valor de R$ 47,9 milhões, firmado com o Consórcio CG Segura. O acordo prevê dois anos de vigência, com possibilidade de prorrogação por até dez, e começa com uma fase educativa de 15 dias antes do início efetivo das autuações.
A medida encerra um período de incertezas iniciado após o fim do contrato com o antigo consórcio, liderado pela Perkons S.A., em setembro de 2024. Desde então, o município registrou quase 200 mil multas sem respaldo contratual, o que gerou uma disputa judicial e expôs falhas de gestão na área de mobilidade urbana. Embora o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul tenha restabelecido a validade das autuações, mais de R$ 5 milhões seguem bloqueados até a conclusão das apurações sobre o antigo contrato.
O novo consórcio é formado pelas empresas Serget Mobilidade Viária, Mobilis Tecnologia, Meng Engenharia e Energy Tecnologia de Automação — todas com histórico de atuação em sistemas de monitoramento em outras capitais. A Agetran afirma que os novos radares terão tecnologia mais precisa, capazes de registrar excesso de velocidade, avanço de sinal, parada sobre faixa e uso de celular ao volante. A prefeitura sustenta que o objetivo é ampliar a segurança viária e reduzir acidentes, embora o debate sobre a função educativa e arrecadatória da fiscalização continue aberto.
Entre 2024 e 2025, Campo Grande enfrentou um cenário de insegurança jurídica e questionamentos sobre a transparência dos contratos públicos. Especialistas em mobilidade apontam que a dependência de consórcios terceirizados fragiliza a política de trânsito e limita o controle social. Dados do DataSUS mostram que, em 2022, foram registradas 138 mortes em acidentes de trânsito na capital — número que se mantém praticamente estável, apesar do aumento dos equipamentos eletrônicos.
Com a reativação dos radares, a cidade tenta retomar a normalidade na fiscalização, mas a discussão sobre a eficácia dessas medidas vai além da tecnologia. Sem políticas contínuas de educação e planejamento urbano, o risco é que o sistema se resuma à punição automatizada, reforçando a sensação de vigilância em vez de promover uma mobilidade mais humana e segura.









