Entre os dias 17 e 26 de setembro, um grupo de peregrinos percorreu os 312 km do Caminho da Fé, saindo de Águas da Prata (SP) até Aparecida (SP). A caminhada é considerada um dos trajetos mais tradicionais do país e reúne pessoas de diferentes idades em busca de autoconhecimento, fé e conexão com a cultura religiosa.
O iG Turismo conversou com o grupo de peregrinos que relataram a experiência de caminhar até o Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida. A viagem, que durou nove dias, exigiu além do esforço físico do grupo, mas que, para eles, é algo indescritível.
“ O primeiro passo foi por curiosidade, mas depois veio o propósito de autoconhecimento e religiosidade ”, explicou Ronaldo Hubner, de Sinop (MT), que realizou o percurso pela quarta vez.
Para ele, o Caminho da Fé vai além da atividade física. “ O sentimento de chegada é quase inexplicável. Só fazendo para entender e sentir. É gratificante e emocionante atravessar o portão da Basílica ”, contou.
Humberto Lacerda, lojista e participante do grupo e quem organizou a caminhada com os amigos, explicou a importância do encontro com outros peregrinos e moradores do caminho.
“ A gente vai caminhando e encontra as pessoas, que oferecem água, ajudam com o que for preciso. É coisa inexplicável ”, disse.
Márcia Silva, auxiliar administrativa, afirmou que a fé foi essencial para concluir a caminhada.
“ No último dia, sentindo muita dor, pensei em desistir. Mas o meu propósito era chegar na Aparecida do Norte andando, e Nossa Senhora me deu forças. Deus me ajudou e o grupo também ”, contou.
O Caminho da Fé também revela aspectos culturais. Cada parada, pousada e cidade no trajeto oferece oportunidades de interação e aprendizado sobre tradições locais. Humberto lembrou que a maioria das pousadas só recebe peregrinos.
“ Não tem comanda, não tem nada. É confiança total. Achei sensacional. É algo que a gente não vê no dia a dia ”, disse.
Fé e da religiosidade na caminhada
Para o grupo de peregrinos, a fé é o fio condutor de toda a experiência. Ronaldo explicou que, embora a preparação física seja importante, o que sustenta o peregrino é a força espiritual.
“ Você precisa ter fé. É ela que te faz continuar mesmo quando o corpo pede para parar. Nas quatro vezes, em nenhum momento passou pela minha mente desistir ”, disse.
Márcia Silva concordou com o colega de caminhada, relatando que a motivação para participar veio de um desejo de cura emocional.
“ Eles disseram que a caminhada poderia me ajudar a sair da depressão. Eu comecei a criar expectativa e confiança de que conseguiria. Foi a fé que me deu forças nos momentos de dor ”, contou.
Durante o percurso, os peregrinos recebem incentivo de outros participantes que encontram no caminho e de moradores das cidades por onde passam.
“ Todos passam, cumprimentam, desejam bom caminho, oferecem ajuda, água, comida, o que for necessário. A energia positiva é incrível ”, disse Humberto.
Ronaldo ainda explicou que a fé também se manifesta na disciplina e na rotina diária da peregrinação.
“ Acordamos cedo, às 4 ou 4h30 da manhã, fazemos paradas a cada 2 ou 3 horas e seguimos caminhando. É exaustivo fisicamente, mas espiritualmente recompensador ”, contou.
Desafios físicos e apoio ao longo do caminho
O Caminho da Fé conta com diferentes tipos de apoio, como moradores locais, outros peregrinos e carros de suporte. Márcia destacou a presença de Rafael, de Monte Sião (MG), que foi essencial na logística do grupo. Ele seguia alguns quilômetros à frente de carro e retornava para encontrar os peregrinos, oferecendo suporte e garantindo que ninguém ficasse para trás. ” Ele foi fundamental na nossa caminhada “, afirmou.
Ronaldo, que iniciou sozinho, acabou integrando o grupo e ressaltou que o trajeto exige planejamento, principalmente nos trechos longos sem apoio, como entre Águas da Prata (SP) e Andradas (SP) ou na saída de Campos do Jordão (SP).
Durante a caminhada, todos os participantes relataram a solidariedade e a camaradagem. ” Pessoas oferecem água, frutas, bolos e apoio de todos os tipos “, contou Humberto.
O acolhimento não se limita às pousadas. Ronaldo explica que a interação com os moradores e peregrinos é essencial para a experiência. ” É gratificante e emocionante atravessar o portão de entrada da Basílica “, disse.
Márcia lembrou que momentos de dificuldade, como chuva intensa e frio, tornam a chegada ainda mais emocionante. ” Foi o dia mais difícil, mas a fé e o apoio do grupo fizeram eu continuar “, disse.
O Caminho da Fé é fisicamente desgastante, mas gratificante. Humberto explicou que a Serra da Mantiqueira exige esforço, com pontos de até 1.995 metros de altitude. ” É desgastante, mas prazeroso. Parece que há alguém empurrando você ou puxando “, disse.
Márcia contou que sentiu dor intensa na perna direita, sobrecarregada devido à cirurgia na esquerda, mas não desistiu. ” O dia mais emocionante foi quando chegamos perto da Aparecida e as pessoas nos receberam cantando e aplaudindo “, afirmou.
Além da força física, o percurso ensina sobre paciência, solidariedade e introspecção. Humberto destacou que cada quilômetro proporciona reflexões e aprendizado. ” É uma experiência que faz renovar a gente “, disse. Todos concordam que o Caminho da Fé não é apenas um trajeto físico, mas uma vivência transformadora. ” Obstáculos vão existir, mas não é impossível. Viver é andar no Caminho da Fé “, concluiu Márcia.