quinta-feira, 2 de outubro de 2025

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Viajar é terapêutico, mas não é terapia: entenda a diferença

Você com certeza já se deparou com essa frase pela internet: “Viajar é terapia.” Ela parece fazer todo o sentido, principalmente quando estamos exaustos da rotina, sobrecarregados pelo trabalho ou emocionalmente drenados. Afinal, quem nunca voltou de uma viagem se sentindo mais leve, renovado, com a mente arejada?

De fato, uma boa viagem tem o poder de transformar a gente. Muda o ar. Muda o ritmo. Muda a perspectiva. Ainda mais no mundo acelerado em que vivemos, onde resolvemos dezenas de coisas ao mesmo tempo, sempre correndo contra o relógio. Quando finalmente chega o momento de viajar, a sensação é de alívio. Parece mesmo uma espécie de “terapia”: um respiro, uma pausa, uma fuga necessária.

Mas é importante fazer uma distinção muito clara: Viajar pode ser terapêutico, mas não é terapia!

O problema começa quando usamos a viagem como uma válvula de escape. Quando o roteiro serve apenas para fugir de sentimentos mal resolvidos, frustrações ou dores que a gente tenta esconder. E aí, quando a viagem termina… tudo volta. E muitas vezes, volta ainda mais intenso.

Para aprofundar essa reflexão, eu conversei com o psicólogo Gustavo Freire, que explicou a diferença entre uma experiência terapêutica e um processo terapêutico estruturado:

“É muito importante aprendermos a diferenciar aquilo que é terapêutico daquilo que é terapia. Viagens, práticas de autocuidado, momentos de lazer e experiências estéticas podem, de fato, produzir efeitos de bem-estar, ampliar perspectivas e até provocar reflexões mais profundas na gente. Mas o que caracteriza um processo terapêutico não é apenas a sensação momentânea de alívio ou renovação, e sim a construção de um espaço seguro, ético, técnico e contínuo, no qual a pessoa pode elaborar suas questões com o auxílio de um profissional capacitado.

A viagem pode funcionar como uma pausa, um respiro necessário, mas se for usada apenas como uma fuga dos desconfortos e dificuldades da vida, irá suspender o problema por um tempo, sem transformá-lo. O trabalho psicológico, por sua vez, não busca a fuga, mas a integração, transformando em consciência aquilo que, sem elaboração, continua operando em silêncio na gente, influenciando nossas escolhas e relações.

Viajar pode ser uma experiência muito enriquecedora, mas não substitui o acompanhamento guiado por um profissional de Psicologia. Uma viagem leva a gente para fora, para o novo, para o desconhecido. A terapia leva a gente para dentro, para aquilo que é mais íntimo, complexo e, muitas vezes, evitado. São movimentos diferentes, mas que podem se complementar. Se a viagem abre horizontes, o processo terapêutico dá sustentação para que esses horizontes se tornem parte de quem somos.”

Vivemos em uma época em que a viagem é constantemente romantizada, como se fosse uma cura mágica para todos os males. Mas a verdade é que nenhum destino nos salva sozinhos. Nenhum carimbo no passaporte resolve o que está guardado no peito.

Eu trabalho com turismo há mais de 20 anos e viajo com grupos pequenos, convivendo de perto com pessoas de todas as idades, histórias e emoções. E posso afirmar com tranquilidade: uma viagem pode fazer muito bem, sim. Mas ela nunca vai substituir um bom acompanhamento psicológico.

A reflexão que fica é simples e profunda:
Viaje. Viva. Explore. Se permita. Mas cuide da sua mente com o mesmo carinho e planejamento que você dedica ao seu roteiro.

Porque a viagem mais importante da sua vida ainda é aquela que te leva para dentro de si.

turismo.ig.com.br

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