Num mundo onde até a mudança precisa viralizar para ser válida, assistir alguém se transformar lentamente diante das câmeras é um ato revolucionário. E é isso que Igor 3K tem feito — não com discursos prontos, mas com dúvidas sinceras. Não com certezas vendáveis, mas com um desconforto constante que não se encaixa nas caixas previsíveis da internet.
Há uma beleza rara em quem admite que sabe menos hoje do que achava saber ontem. Porque a ignorância, ao contrário do que pregam os gurus da lacração ou do extremismo higienizado, não é ausência de dados — é ausência de humildade. E o Flow, esse inusitado confessionário digital, virou um espelho da jornada de um sujeito que, por ter conversado com quase todo mundo, já não sabe muito bem de que lado ficar. Talvez porque tenha entendido que os lados são armadilhas. Que a polarização é uma forma de preguiça intelectual. Que o problema não é a internet — é a falta de honestidade intelectual.
É curioso ver um comunicador que construiu impérios de audiência confessar que não tem tempo para um burnout — mas talvez já esteja vivendo um. Que toma remédio, mas não consegue fazer terapia porque não pode lidar com certas dores agora. Que conversa com filósofos e políticos e ainda se sente um impostor, mas que segue dançando na corda bamba da dúvida. Porque sabe que a inteligência orgânica não se fabrica com cliques. Ela se cultiva na lentidão de quem escuta. E escutar, hoje, é um ato de resistência. Como ele mesmo disse: “Eu só queria que as pessoas enxergassem também”.
Talvez seja isso que separa o humano do algoritmo. A inteligência artificial acerta a próxima palavra. Mas não sente a angústia que essa palavra pode carregar. Não há máquina que saiba o peso de uma pausa. Nenhum chatbot faz jornalismo com o silêncio. Porque presença não se programa.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG