domingo, 24 de agosto de 2025

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Entenda como é feita a troca dos dormentes nas linhas de trem

Embora muitas vezes possam passar despercebidos pelos olhos de quem observa uma ferrovia, os dormentes são essenciais para o funcionamento dos  trens.  Por isso, a manutenção e a troca deles precisam ser bem planejadas e feitas com critérios técnicos definidos pelos especialistas.  

Afinal, são essas peças de madeira, aço, concreto ou polímero  as responsáveis por garantir o fixamento da composição  nos trilhos. Ou seja, que o trem siga seu caminho em segurança. 

Assista:

O dormente ajuda, por exemplo, na distribuição do peso do trem e na estabilidade na via-férrea, além de outras funções que destacam a sua importância.

Em entrevista ao  iG Turismo, Joubert Fortes Flores Filho, presidente do conselho administrativo da ANPtrilhos,  lembra que a madeira sempre foi o principal material utilizado, mas isso mudou com o passar dos anos.

“No início era tudo feito de madeira. Geralmente, de três tipos de madeira: ipê, eucalipto e peroba, com tratamento. Hoje em dia, você tem outros materiais”.

Para definir quando trocar o dormente, o engenheiro eletricista cita o desgaste, que varia conforme a matéria-prima utilizada.

“As razões para você fazer a troca podem ser o fim da vida útil. Dormentes de madeira, por exemplo, têm uma vida útil menor e precisam de tratamento para não deteriorar e não apodrecer” .

Como as trocas sao feitas?

Atualmente, existem dois tipos de processo. O mais antigo envolve a ação humana em todas as etapas. Mas a tecnologia evoluiu e as máquinas vêm conseguindo substituir a presença dos trabalhadores em parte do processo.

O engenheiro civil e professor do IF Sudeste, que possui um curso de Engenharia Ferroviária,  Fernando Paulo Caneschi  explicou os detalhes ao  iG Turismo.

“Dormentes podem ser substituídos por ações mecanizadas, tanto com equipamentos de pequeno porte ou de grande porte. Além disso, podem ser substituídos por ações manuais de forma pontual”, enfatiza o profissional.

Quando as manutenções precisam ocorrer, o tráfego em determinados trechos pode ser temporariamente pausado. Isso, contudo, não é regra, essencialmente em intervenções breves e que não demandarão tanto tempo para serem concluídas.

Troca de dormente nem sempre interrompe a passagem do trem

Uma das principais preocupações nas trocas de dormentes é o destino do material removido, especialmente quando se trata de madeira. Afinal, se essa matéria-prima já não atende mais às exigências da via férrea, isso significa que perdeu completamente sua utilidade?

Na verdade, embora possa ser ineficaz para a malha ferroviária, este material pode ter outras utilizações e ser reciclado. “Dormentes de madeira são comercializados para diversos fins, como construção civil, paisagismo, fabricação de móveis e outros”, observa Fernando Paulo Caneschi .

“Para os dormentes de aço, a proposta é realizar a reciclagem mesmo, voltando para as siderúrgicas. No caso do concreto, uma opção é a triturar e reaproveitar o material como insumos de argamassa”, lista ele.

Durabilidade dos dormentes conta na hora de escolher o material

Paulo Lobato,  engenheiro civil pela UFMG,  conta ao  iG Turismo os principais aspectos da vida útil de cada material.

Um dos motivos para a priorização do concreto nos dias atuais é pela maior vida útil. As alternativas com polímeros também têm avançado no setor.

“Madeira tratada pode durar de sete a 20 anos, dependendo do clima, tipo de madeira e tráfego. O concreto varia de  30 a 50 anos. Já o plástico reciclado ou compósito tem a vida útil projetada para 30 anos ou mais”,  detalha o profissional.

“O procedimento muda conforme a via, principal ou secundária, e os recursos disponíveis; A inspeção prévia identifica dormentes podres, quebrados ou com fixações comprometidas. Na remoção, retira-se o lastro ao redor do dormente, soltam-se os grampos e parafusos e o dormente é puxado lateralmente para fora. Na colocação, o novo dormente é inserido, centralizado, alinhado e fixado aos trilhos. Por fim, com a recomposição do lastro, o material é devolvido e socado para dar estabilidade”, acrescenta.

Dormente e a questão ambiental brasileira

Os dormentes de concreto e aço ganharam espaço no setor por ajudarem na preservação ambiental. 

O portal Brasil Ferroviário publicou um artigo detalhando cada um dos materiais mais utilizados na produção.

Sobre os de madeira, destacou os caminhos para que ela fique no ponto ideal para a fabricação.  

”Os índices de reflorestamento são deficitários e há certa dificuldade em captar madeira de lei em locais naturais. A madeira ideal para se tornar um dormente deve ser colhida viva e em meses secos. Logicamente deve estar isenta de fungos e rachaduras” .

Entre as vantagens da madeira, o site citou o fato dela ser leve, de fácil manuseio e resistente aos resíduos industriais. 

As  desvantagens citadas da madeira dizem respeito ao fato dela ser vulnerável a fungos, insetos e ao fogo. A madeira ainda permite, em certo prazo, a abertura da bitola e afrouxamento das fixações, exigem tratamentos químicos e são protegidas por órgãos ambientais.

Sobre os dormentes feitos com aço, foram destacadas como vantagens o peso leve, o fato de ser homogêneo, longa durabilidade e boa resistência.

As  desvantagens elencadas foram a dificuldade para fazer a compactação do material debaixo do dormente (processo chamado de socaria), além do aço conduzir energia elétrica e ter alto preço de produção.

No caso dos dormentes de  concreto, o Brasil Ferroviário afirma que ele ”tem sido o preferido para o transporte de passageiros, ou em ferrovias ‘leves’, porém para ferrovia de carga, ferrovias pesadas, apresenta algumas desvantagens custosas e alto risco, como o trincamento”.

Ainda assim, apresenta como vantagens a durabilidade, estabilidade, boa resistência e baixo custo de manutenção.

Por outro lado, o concreto é pesado, demanda maquinário específico, tem dificuldades de transporte e dá perda total em caso de acidentes.

Por fim, o portal destaca os dormentes feitos com  polímero(chamado de “plástico”).

”Podem ser produzidos a partir de materiais reciclados ou a partir de fontes oriundos do petróleo. Possuem formato próximo ao de madeira e podem ser combinado com esses na via” .

As vantagens do polímero nos dormentes são a durabilidade, o peso mais leve de todos os modelos conhecidos, o fato de não rachar, não conduzir energia elétrica e manter as dimensões.

Apesar das qualidades, o polímero deteriora em contato com fogo ou qualquer outro elemento de alta temperatura e não é feito de fonte renovável.

Conservação é essencial para a revitalização do transporte ferroviário no país

Bruno Crivelari Sanches,  da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, enxerga na conservação da infraestrutura um fator fundamental para impulsionar a revitalização do transporte ferroviário no país.

Ele, no entanto, ressalta uma certa resistência do setor na utilização dos polímeros. 

“Fizeram alguns com polímero de plástico, mas parece que não agradou. Na ABPF, usamos madeira e concreto”,  aponta.

Segundo ele, a resistência ao plástico tem a ver com falhas estruturais.

“Eu nunca utilizei, mas os relatos que recebi das empresas que estão usando é que deram problema, começaram a ceder”,  resume.

turismo.ig.com.br

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