Você sabe o que é um geoparque?
A palavra sinaliza um local que tenha importância geológica, científica e características únicas.
E o Brasil tem nada menos que seis Geoparques Mundiais da Unesco espalhados em cinco estados, além de um sétimo aspirante ao título.
“ Para ser geoparque, precisa ser um capítulo único na história do planeta Terra. Precisa ter uma caracterização geológica de valor internacional. Vai contar uma história que ninguém contou ainda ”, explica Eduardo Guimarães, presidente da Rede Brasileira de Geoparques Mundiais da Unesco.
Para entrar na lista da organização, um geoparque precisa ser um local de importância geológica internacional que combine proteção, educação e desenvolvimento sustentável. São 229 no mundo inteiro.
Todos os geoparques da Unesco no Brasil estiveram expostos no Salão do Turismo 2025, promovido pelo Ministério do Turismo até este sábado (23) no Distrito Anhembi, na Zona Norte de São Paulo.
O Portal iG visitou os estandes e você confere os detalhes de cada geoparque abaixo:
Geoparque Araripe (CE):
Chancelado em 2006, é o primeiro geoparque Unesco do Brasil e das Américas, abrangendo os municípios de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri.
Guimarães explica que o principal destaque ali é a preservação de fósseis.
“ O que destaca o geoparque Araripe, por exemplo, de outros territórios, é o patrimônio paleontológico. Nós somos considerados o território do período cretáceo mais importante do planeta. Temos, por exemplo, 38 espécies de pterossauros catalogados. Nós temos um processo de preservação de fósseis que é único no planeta” , explica.
Os 11 geossítios – locais onde existem as formações geológicas de grande valor – incluem o Parque dos Pterossauros, a Cachoeira de Missão Velha e as Batateiras.
Geoparque Seridó (RN)
Chancelado pela Unesco em 2022, o parque abarca seis municípios potiguares: Acari, Carnaúba dos Dantas, Cerro Corá, Currais Novos, Lagoa Nova e Parelhas.
“ O Seridó tem uma geologia muito característica do território. Você tem um consumo de paisagens geológicas como o Cânion dos Apertados, a Mina Brejuí ”, exemplifica Guimarães.
São 21 geossítios ao todo, que também incluem o Monte do Galo, o Açude Boqueirão, a Serra Verde, o Pico do Tororó, o Mirante de Santa Rita e as Marmitas do Rio Carnaúba.
Em alguns locais, a contratação de um guia é obrigatória, como em Cerro Corá e Currais Novos.
Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul (RS e SC)
Localizado na divisa entre os dois estados, o geoparque é formado pelos municípios de Praia Grande, Jacinto Machado, Timbé do Sul e Morro Grande, em Santa Catarina, e Cambará do Sul, Mampituba e Torres, no Rio Grande do Sul.
São 17 geossítios, incluindo cânions, cachoeiras, parques e até uma ilha. É possível fazer trilhas, passeios de aventura, contemplação, conhecer a gastronomia e a cultura locais, praticar esportes e muito mais.
Geoparques do RS
O estado gaúcho é o único que tem dois geoparques reconhecidos pela Unesco inteiramente dentro de seu território: o Geoparque Quarta Colônia, que abarca nove municípios, e o Geoparque Caçapava, em Caçapava do Sul.
Para Guimarães, o fato de o estado ter dois parques desse tipo mostra capacidade de organização territorial.
“ Esse é um ponto muito favorável’ , comenta.
O Geoparque Quarta Colônia, no centro do estado, tem dezenas de geossítios, incluindo os fluviais, de fósseis, ecológicos, cênicos, histórico-culturais e vários outros.
Guimarães explica que as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no ano passado trouxeram à tona fósseis no Quarta Colônia.
“ As enchentes abriram escavações e encontraram fósseis raríssimos. Isso fez com que o Quarta Colônia estivesse cada vez mais importante no cenário mundial por conta desse patrimônio que surge a partir de um desastre natural ”, lembra.
Localizado no município de Caçapava do Sul (RS), o Geoparque Caçapava tem 22 geossítios, dos quais os principais são as Pedras das Guaritas, as Minas do Camaquã e a Serra do Segredo.
Os geoparques gaúchos são os próximos brasileiros a serem revalidados pela Unesco, o que ocorre a cada quatro anos.
Geoparque Uberaba (MG)
Conhecido como “Terra de Gigantes” e localizado na cidade de mesmo nome, no Triângulo Mineiro, o parque foi o mais novo a ser chancelado pela Unesco, no ano passado.
Tem seis geossítios: Ponte Alta, Caieira, Univerdecidade, Serra da Galga, Santa Rita e Vale Encantado.
Critérios
Para se tornar um geoparque, um território precisa, primeiro ter um projeto. Depois, vira aspirante, que é o caso do Geoparque Aspirante Costões e Lagunas, do Rio de Janeiro, que abrange 16 municípios fluminenses.
Para receber o título oficial, precisa ser chancelado por uma comitiva. No ano passado, uma equipe esteve no Brasil para avaliar o território, mas o resultado foi negativo.
“ Um território precisa se organizar, e essa organização territorial é de baixo para cima. Tem que ter o envolvimento de diversos atores do território – do poder público, privado e da sociedade organizada. Há um pacto para o desenvolvimento regional sustentável ”, explica Guimarães.
O diretor explica que o geoparque aspirante tem, agora, mais quatro anos até poder submeter um novo dossiê de candidatura à Unesco.
“ Costões e Lagunas é um território de valor geológico, de geodiversidade, espetacular, mas que apresentou dificuldades no processo de construção de candidatura. Isso é parte do jogo. O que interessa pra gente são cada vez mais territórios geoparques. Não há competição, não há queda de braço. Há cooperação técnica o tempo inteiro ”, ressalta.