Senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP)
Nesta terça-feira, 12 de agosto, participei do Seminário “Marco Legal da Inteligência Artificial – O Caminho Setorial”, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Durante o evento, destaquei a importância de termos uma abordagem estruturada e colaborativa para o desenvolvimento e a regulamentação da Inteligência Artificial (IA) no Brasil.
Como ex-Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação (2019-2022), sei que não podemos perder tempo nesse assunto. Para explicar o cenário atual e os desafios que temos pela frente, usei uma analogia:
A represa da IA já está vazando
A Inteligência Artificial é como uma grande represa que já apresenta rachaduras e começa a vazar. O desenvolvimento não vai parar — ele já começou e está acontecendo em todos os lugares, no Brasil e no mundo. A questão não é se essa represa vai arrebentar, porque ela vai, devido à evolução exponencial da tecnologia. O que precisamos decidir é como vamos canalizar essa força para gerar benefícios para o país, evitando que se transforme em uma enxurrada descontrolada que cause prejuízos. Não podemos ficar despreparados e deixar que os efeitos negativos superem os positivos.
Não é hora de frear, mas de direcionar
Não podemos simplesmente deixar que essa “água” se espalhe sem controle, pois o estrago social e econômico seria enorme. Por outro lado, também não podemos tentar “segurar” a evolução da IA, porque ela avança a cada segundo. O caminho é fazer o “contorno do rio”, definindo até onde queremos permitir e para onde vamos direcionar esse desenvolvimento no Brasil.
Os benefícios são imensos
A IA pode acelerar diagnósticos de doenças, melhorar processos industriais, aumentar a produção agrícola, trazer mais eficiência para o setor público e criar novos postos de trabalho de alta qualidade. Mas é preciso reconhecer que haverá transições que podem impactar empregos em algumas áreas. Por isso, devemos trabalhar para que a IA seja um assistente, e não um substituto do nosso cérebro.
Os riscos que precisamos enfrentar
Medo do desconhecido: Não podemos nos afastar da IA. É conhecendo que teremos controle.
Evolução exponencial: A legislação não consegue acompanhar sozinha a velocidade da inovação.
Excesso de confiança: Assim como confiar cegamente no GPS pode nos levar a caminhos errados, depender totalmente da IA é perigoso.
Aprendizado da IA com o usuário: Ela reproduz o que recebe. Se alimentada com preconceito ou conteúdo nocivo, vai replicar isso.
Proteção de dados e segurança cibernética: Precisamos preparar nossas crianças para o mundo digital e seus riscos.
Propostas para o futuro
Planejar o desenvolvimento da IA de forma integrada entre todos os setores.
Formar profissionais em IA e segurança cibernética, fortalecendo universidades, escolas técnicas e instituições como o SENAI.
Investir em infraestrutura para receber grandes bancos de dados de IA, aproveitando nossa vantagem em energia renovável e transmissão de dados.
Fomentar startups e preparar a força de trabalho para a transição de empregos.
Garantir responsabilidade compartilhada entre fornecedor e usuário.
Ir além da legislação, trabalhando também na autorregulação, educação e cultura digital.
O tempo está correndo
O tempo está passando e a rachadura dessa represa está aumentando. Ou tomamos as decisões corretas agora para usar a IA da melhor forma possível, ou vamos pagar um preço muito caro na competitividade frente aos países que já estão se preparando. Essa não é uma questão de partido ou ideologia, mas uma questão de Brasil. E exige que trabalhemos juntos, para que possamos construir um futuro melhor para todos.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG