O samba amanheceu mais silencioso nesta sexta-feira (8) com a morte de Arlindo Cruz, aos 66 anos, no Rio de Janeiro. Ícone do gênero, o cantor e compositor não resistiu às complicações de saúde decorrentes de um AVC (acidente vascular cerebral) hemorrágico sofrido em 2017. A notícia mobilizou o mundo do samba, entre homenagens emocionadas e despedidas comoventes, como a de Zeca Pagodinho, amigo e parceiro de longa data.
“Vai com Deus, meu compadre. Sofreu muito, agora precisa descansar um pouco.”, disse Zeca em vídeo publicado nas redes sociais.
A relação entre os dois ultrapassava os palcos: amigos desde os anos 1980, eles dividiram sambas, palcos, histórias e uma admiração mútua que marcou gerações. Zeca, inclusive, é padrinho de Arlindinho, filho do artista.
Juntos, Zeca e Arlindo assinaram sambas consagrados, como “Camarão que dorme a onda leva”, ao lado de Beto Sem Braço — eternizada na voz de Beth Carvalho — além de faixas como “SPC” e “Dor de Amor”, em parceria com Acyr Marques, irmão de Arlindo. Em encontros frequentes em rodas de samba e gravações, a parceria era também uma celebração da amizade e da cultura popular.
Segundo o biógrafo Marcos Salles, nos tempos em que ainda trabalhava como bancário no Centro do Rio, Arlindo era buscado por Zeca para irem juntos ao tradicional Cacique de Ramos — um dos berços do samba moderno no Brasil. Mais tarde, o compositor esteve presente no Quintal do Pagodinho, projeto afetivo de Zeca em Xerém (RJ), que reunia sambistas em celebrações intimistas.
A morte de Arlindo foi confirmada pela esposa, Babi Cruz, e anunciada nas redes sociais da família.
“Mais do que um artista, Arlindo foi um poeta do samba, um homem de fé, generosidade e alegria. Sua voz, suas composições e seu sorriso permanecerão vivos na memória e no coração de milhões de admiradores.”, diz o comunicado.
Desde o AVC, em março de 2017, Arlindo enfrentava um longo processo de reabilitação, com internações e cuidados constantes. A última apresentação aconteceu antes do episódio, que marcou uma ruptura precoce na carreira do artista, reverenciado como um dos maiores sambistas contemporâneos.