quinta-feira, 19 de junho de 2025

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Dia do Físico: heróis da ciência, gênios invisíveis!

Plenário do Senado Federal durante sessão especial destinada a comemorar o Dia do Físico. Presidente e requerente desta sessão, Senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) conduz sessãoAgência Senado

Comemoramos essa semana, no Senado Federal, o Dia do Físico, uma data que, para mim, vai além de uma marcação no calendário, mas uma forma de apoiar a ciência, tecnologia e inovação nacional. É um momento importante para reconhecer as mentes brilhantes que dedicam suas vidas a desvendar os segredos do universo e a transformar o conhecimento científico em progresso real para toda a sociedade. Como astronauta e engenheiro, posso afirmar com convicção: tudo o que conquistamos — da medicina avançada à exploração espacial — só foi possível graças à física e aos físicos.

O evento reuniu representantes de diversos setores da sociedade, incluindo as Forças Armadas, a comunidade acadêmica, pesquisadores, membros do governo, do parlamento e profissionais da área médica.

Falta de compromisso com a pasta e cortes no orçamento da Educação marcaram os discursos durante a cerimônia

Em posição de respeito, parlamentares, autoridades e convidados acompanham execução do Hino Nacional. Mesa: presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), Rodrigo Capaz; presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão; diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (Incaer), Vincent Dang; presidente e requerente desta sessão, senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP); secretária desta sessão; diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha do Brasil (DGDNTM), Alexandre Rabello de Faria; diretora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Débora Peres MenezesAgência Senado

Com toda a homenagem que a profissão merece, impossível não destacar a falta de comprometimento efetivo por parte do poder público atual e a ausência de políticas públicas para a manutenção de programas importantes para a área. A comemoração do Dia Nacional do Físico não pode ser apenas simbólica — ela precisa vir acompanhada de ações concretas que garantam a continuidade e o fortalecimento de programas estratégicos para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.

Infelizmente, temos visto uma fragilidade das políticas voltadas ao setor, a descontinuidade de projetos relevantes e a escassez de recursos que comprometem até mesmo o funcionamento básico de instituições e centros de pesquisa. Sem investimento consistente e constante, perdemos pesquisadores para o exterior, desaceleramos a inovação e colocamos em risco a soberania nacional. Valorizar os físicos, portanto, é também garantir estrutura, financiamento e reconhecimento institucional para poderem continuar contribuindo com o progresso do Brasil.

A educação, tão importante para o desenvolvimento da área, tem apresentado dados alarmantes na sociedade brasileira. Mais de 70% dos alunos com até 15 anos não sabem matemática básica e a metade deles não sabe interpretar textos. Os dados são do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Uma informação que saiu recentemente na imprensa é que, mesmo com promessas de recomposição, o orçamento das federais continua baixo e abaixo dos governos anteriores de Bolsonaro e Temer. No final de abril, o governo emitiu um decreto limitando a liberação de recursos para as instituições federais de ensino em 61% do orçamento previsto para o ano até novembro.

Como senador, tenho me dedicado ao máximo para valorizar a ciência e a tecnologia, apesar de todas as críticas e desafios enfrentados. Defendo propostas importantes para a manutenção do orçamento para a pasta, articulo investimentos para projetos importantes e promovo iniciativas que colocam o conhecimento como prioridade para o desenvolvimento do nosso país.

Mas não existe nenhum país desenvolvido no mundo que não tenha chegado lá sem investir nessas áreas estratégicas: educação, ciência e tecnologia. Esse é o caminho.

Conheça minhas propostas

PEC 31/2023: Proposta que estabelece o incremento gradual do montante aplicado em ciência, tecnologia e inovação até, no mínimo, 2,5% do produto interno bruto. Dados do Banco Mundial e do próprio Ministério da Ciência e Tecnologia indicam que o Brasil destina atualmente 1,2% do seu PIB para pesquisa e desenvolvimento. Esse percentual contrasta com o de países como Israel e Coreia do Sul, que investem mais de 4% do PIB nesse setor, além de China, Alemanha e Austrália, que também têm dado maior prioridade ao tema, com aportes superiores a 2% do PIB. O aumento dos investimentos em pesquisa impulsiona o desenvolvimento de novas tecnologias, elevando a produtividade nacional — fator essencial para o crescimento econômico sustentável. 

PEC 26/2025: O projeto prevê  a vedação a medidas de limitação de empenho de despesas financiadas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT. O objetivo é vedar expressamente a aplicação de medidas de limitação de empenho sobre despesas destinadas à inovação e ao desenvolvimento científico e tecnológico, quando financiadas por fundos criados para esse fim. Embora a Lei Complementar nº 177, de 2021, já tenha incluído essa proibição na Lei de Responsabilidade Fiscal, a experiência recente demonstra que normas infraconstitucionais não têm sido suficientes para impedir tentativas de contingenciamento, ainda que de forma indireta. Por isso, elevar essa proteção ao nível constitucional é medida necessária para assegurar segurança jurídica e estabilidade na execução das políticas públicas de ciência e tecnologia. Áreas como ciência, inovação e desenvolvimento tecnológico não podem ficar sujeitas a incertezas orçamentárias, pois são fundamentais para a soberania nacional, o crescimento econômico sustentável e a melhoria da qualidade de vida da população.

PL 2167/2025: Institui a Política Nacional para o Desenvolvimento da Medicina Nuclear. A medicina nuclear é usada principalmente no combate ao câncer, doenças cardiovasculares e infecções graves. O projeto tem a finalidade de ampliar o acesso da população a diagnósticos e tratamentos, além de fortalecer a produção nacional de radiofármacos e dos serviços no setor. A proposta também prevê o apoio à formação de profissionais especializados e a aceleração da construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB).

CERN: O CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear) foi fundado em 1954 e abriga o maior acelerador de partículas do planeta, o Large Hadron Collider (LHC), utilizado para investigar as partículas fundamentais que compõem a matéria, além da comprovação do bóson de Higgs (“partícula de Deus”), a invenção da World Wide Web (www), em 1989, e experimentos e descobertas sobre a antimatéria. Representa um dos primeiros projetos colaborativos europeus e atualmente conta com 23 países membros e o Brasil é um deles. Como Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação e como Senador da República, estive envolvido no processo em diferentes momentos: em 2022, como ministro, assinei o acordo para tornar o Brasil membro associado e em 2023 como senador, dei continuidade na aprovação desse acordo. O CERN é um marco da ciência brasileira, pois permite a participação de pesquisadores brasileiros nas pesquisas e experimentos no local. O Brasil, como membro associado pode participar de “intercâmbio” de pesquisadores, nossos pesquisadores podem usar as instalações no local e ajudar no acelerador de partículas brasileiro, o Sirius. Esse acordo era esperado há mais de 12 anos pela comunidade científica e pelo setor produtivo.

SIRIUS: É o maior laboratório de luz síncrotron do Brasil, permitindo estudar materiais no nível molecular e atômico, melhorando a qualidade das pesquisas em diversas áreas como saúde, agricultura, indústria, biologia, física e química. Fundamental para o desenvolvimento de novos medicamentos, materiais resistentes, fertilizantes eficientes e alimentos mais nutritivos. Como ministro, pude promover o aporte financeiro para finalizar sua construção. Isso fez com que o Brasil se posicionasse no cenário internacional como líder em pesquisa científica e tecnológica.

PROJETO ORION: O Orion é um complexo laboratorial de pesquisa avançada dedicado ao estudo de patógenos (vírus, bactérias e fungos) e seus efeitos na saúde humana, disponível para a comunidade científica brasileira e internacional. O projeto inclui as primeiras instalações de máxima contenção biológica (BSL-4) da América Latina, sendo o único laboratório do tipo no mundo conectado a uma fonte de luz síncrotron, o Sirius. Como ministro do MCTI, pude anunciar e dar o “start” na construção do Laboratório.

Homenagem

Como uma forma de valorizar esses profissionais também, além de leis de incentivo, a sessão especial teve a finalidade de promover essa justa homenagem.

E foi com muita honra que presidi a Sessão Especial no Senado Federal em celebração ao Dia do Físico, ocasião em que comemoramos a memória de dois gigantes da ciência brasileira:

Professor Ronald Cintra Shellard, cujo nome é referência na física de altas energias, se destacou à frente do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e na sua participação em colaborações científicas internacionais, colocando o Brasil no cenário internacional. Sua dedicação incansável à ciência foi simbolicamente reconhecida com a assinatura do voto de louvor pelo Dr. João Paulo Sinnecker, representando o CBPF.

Professor Rogério Cézar de Cerqueira Leite foi pioneiro na ciência aplicada e na inovação tecnológica. Formado pelo ITA e doutor pela Sorbonne, construiu centros de excelência como o CNPEM e atuou em frentes decisivas para o avanço da pesquisa em materiais e energia. A assinatura simbólica de seu voto de louvor, feita pelo Professor Rodrigo Capaz, Diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia – LNNano/CNPEM.

Ao finalizar a sessão, reafirmei meu compromisso com a valorização da ciência e dos profissionais que a constroem todos os dias. Celebramos homens e mulheres que dedicaram suas vidas à busca pelo entendimento dos fundamentos do universo e à aplicação do conhecimento para o bem da humanidade.

Também recordamos nomes de grandes físicos brasileiros já falecidos, cujas contribuições atravessaram fronteiras e marcaram gerações:

César Lattes – co-descobridor do méson pi, um dos pais da física de partículas no Brasil e figura central na criação do CNPq;

José Leite Lopes – pioneiro da física teórica no país, com trabalhos em simetria de gauge e contribuições para a física de partículas;

Mário Schenberg – reconhecido mundialmente por seus estudos em astrofísica, mecânica estatística e filosofia da ciência;

Oscar Sala – especialista em física nuclear, responsável pela implantação do acelerador Van de Graaff no Brasil; 

Joaquim da Costa Ribeiro – pioneiro em física experimental, descobridor do fenômeno da pirroeletricidade em cristais orgânicos;

Gleb Wataghin – físico ítalo-brasileiro, fundador do Instituto de Física da USP e responsável por formar a primeira geração de físicos brasileiros.  

Eu posso dizer como astronauta que, a partir do espaço, a Terra revela-se pequena e frágil — um ponto azul cercado pela vastidão. Essa imagem simbólica nos lembra o quanto nosso planeta depende da inteligência, da sensatez e do conhecimento daqueles que o habitam. 

A Física é uma das mais valiosas ferramentas do conhecimento humano — capaz de nos revelar as leis fundamentais do universo, orientar o progresso tecnológico e contribuir para o desenvolvimento equilibrado e responsável da sociedade. 

Parabéns a todos os físicos brasileiros!

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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