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Episódio 15 – Términos Inacabados
Só o improvável tem alguma chance de ser possível.
Jerusa percorreu os corredores do acervo com a boca aberta. Mas não era a quantidade que a impressionou. Não era apenas que ela estava testemunhando um fato histórico.
“A desconhecida coleção do melhor escritor brasileiro”.
Inimaginavel o potencial daquelas estantes.
Ficci limitou-se a observar beatificamente o espanto de Jerusa. Ficava monitorando de perto seu fascinio.
‘Trouxe poquisssimas pessoas aqui…’
‘Afanes veio?.’ Enquanto isso, quase estática, ela observava a coluna de livros e, ocasionalmente, acariciava pensativa as nervuras das lombadas.
‘Sim, ele veio. Mas o que realmente interessa aqui são estes aqui’.
Então Ficci avançou em direção à grande estante descortinou um pequeno nicho de livros que estavam especialmente protegidos.
‘Como essa coleção chegou até você? Perguntou usando propositalmente um tom desconfiado.
‘Ah minha cara, isso é uma longa história, o importante é te dizer que este acervo agora corre um grande risco. E você faz parte deste risco.’
‘Eu faço parte? Não estou entendendo. Acho que chegou a hora de você abrir o jogo amigo.’
E virou-se para Ficci:
‘Afanes sabe que estou aqui. Espia só a mensagem que ele acabou de me enviar.’
E Jerusa apontou o celular rispidamente, quase encostando na cara de Ficci para impor-lhe a leitura da mensagem.
Ficci ficou impassível, imperturbável.
Mostrou a frieza resoluta dos adeptos do estoicismo.
‘Afanes é um bom sujeito, só deduz demais com pouco e faz sinteses precipitadas.’ Desabafou Ficci
‘E porque ele está aqui buzinando que eu corro riscos, e antes disse que você era assutador?’
‘Você corre mesmo. Premissa certa, dedução errada. Ele acha que o risco sou eu, mas o risco está em outro lugar.
‘Então Afanes está delirando, paranóico, pirou?’
‘Não. Eu já imaginava que ele poderia decompensar e fazer isso. Só que ele também não sabe o tamanho da encrenca na qual ele nos meteu. Neste sentido, você é mais vítima do que culpada.
‘Ah muito agradecida. Dr. Ficci, desembucha!’ Jerusa endureceu achando que poderia pressionar um estóico militante.
‘A Sra. sabe o que é uma contrafação?’
‘Vagamente.’
‘Uma contrafação é uma edição não autorizada, hoje poderiamos chamar de uma edição pirata.‘ finalizou didático.
Jerusa sentiu uma pontada, e notou que o corte no dedo pulsava novamente. Ficci também notou. O sangue voltara a embeber o curativo.
Ficci fingiu indiferença e prosseguiu solene sem mudar o tom da voz:
‘Machado tinha uma verdadeira obcessão por edições deste tipo. Colecionou algumas. No final deixou um testamento especifico sobre este acervo. E tem o diário’
‘Ele tinha um diário? Valha-me Semhor! Um diário! E você fala assim, como se fosse mais um…’
Continua
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