Coach não é guru. E nem vilão
Você já fez piada com coach? Eu já.
E, para ser honesto, entendo perfeitamente quem faz.
A palavra “coach” virou um meme. Um rótulo usado para descrever gente que vende promessa vazia, frase de efeito, motivação em pílula, e que parece mais interessada em aparecer do que em ajudar. É um estereótipo forte, alimentado por exageros, vídeos com trilha épica, e uma certa cultura de palco onde o storytelling vale mais que o conteúdo.
Mas nem todo coach é um personagem de Instagram. E é preciso ter coragem intelectual para fazer essa distinção.
No episódio mais recente do podcast Inteligência Orgânica, recebi o Rapha Freitas, um cara que representa justamente o oposto dessa caricatura. Rapha largou uma carreira sólida de 21 anos no Banco do Brasil – com estabilidade, plano de carreira e todas as certezas – para se dedicar ao desenvolvimento humano. Ele não vende mágica. Não promete iluminação instantânea. O que ele faz é criar espaço para que outras pessoas se escutem. Com método, com ética, com responsabilidade.
Na nossa conversa, ficou claro que há uma diferença brutal entre um coach de palco e um profissional que se compromete com a transformação do outro. A verdadeira prática do coaching não tem a ver com conselhos vazios, mas com escuta qualificada, com perguntas certas e com a capacidade de sustentar um processo sem tomar o protagonismo de quem está ali para se transformar.
Há também um limite ético que precisa ser respeitado. Coach não é terapeuta. E quem não entende isso, ou ultrapassa essa fronteira, coloca vidas em risco. Por isso, a crítica ao mercado é justa. Mas generalizar é preguiçoso – e, muitas vezes, injusto com quem faz um trabalho sério e comprometido.
O episódio não é sobre motivação. É sobre responsabilidade. Sobre entender que mudar de vida não acontece quando alguém te convence com um discurso bonito, mas quando você se compromete com pequenas ações consistentes. A motivação real não vem de fora. Ela brota do incômodo. E só floresce quando encontra disciplina.
A conversa com Rapha nos faz revisitar o conceito raso que muitos de nós temos sobre coaching. E talvez esse seja o convite principal do episódio: revisar, com honestidade, os rótulos que carregamos. Nem todo mundo que fala sobre mudança está vendendo ilusão. Alguns estão oferecendo, com coragem, um espelho.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG